Visibilidade trans: como promover um Onboarding inclusivo
Desde 2004, o dia 29 de janeiro é marcado pela comemoração do Dia Nacional da Visibilidade Trans – um importante marco na luta contra a transfobia.
Embora o apoio à comunidade deva ser uma preocupação contínua, essa data oferece uma oportunidade extra para as organizações buscarem maneiras de construir ambientes mais inclusivos.
Como o Onboarding é parte importante dessa jornada, hoje vamos refletir sobre o que as organizações podem fazer para que as pessoas trans e travestis se sintam acolhidas desde o primeiro dia de trabalho.
Boa leitura!
Por que existe um Dia da Visibilidade Trans?
Como acabamos de ver, o Dia Nacional da Visibilidade Trans é celebrado todo dia 29 de janeiro.
A data faz alusão ao lançamento da campanha “Travesti e Respeito”, que aconteceu em 2004, no Congresso Nacional, em Brasília, e ficou conhecida como a primeira campanha contra a transfobia no país.
Desde então, ativistas se unem anualmente para celebrar a existência de pessoas travestis e transexuais, mas também para chamar a atenção da sociedade para as reivindicações dessa comunidade.
Vale lembrar que, há mais de uma década, o Brasil ocupa a topo da lista de países que mais matam pessoas trans e travestis em todo o mundo – e isso, por si só, já é um motivo mais do que suficiente para o Dia da Visibilidade existir.
É urgente refletir sobre as transformações necessárias na sociedade e nas instituições, para que todas as pessoas, independentemente de sua identidade de gênero, possam viver com dignidade, respeito e sem medo de violência.
Pessoas trans e mercado de trabalho
Um dos temas que sempre ganham destaque no dia 29 de janeiro é a baixa participação das pessoas trans e travestis no mercado de trabalho formal.
Segundo levantamento recente, as pessoas trans ou não-binárias correspondem a 2% da população brasileira – o que equivale a cerca de 3 milhões de indivíduos.
Porém, apenas 4% das pessoas trans e travestis estão no mercado de trabalho formal, segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (Antra).
Não por acaso, a entidade estima que ao menos 90% das travestis e mulheres trans utilizam a prostituição como fonte primária ou complementar de renda.
Mais do que expor uma realidade de exclusão, os números destacam a necessidade latente de as empresas adotarem práticas cada vez mais inclusivas para abrir caminhos para que essa população avance.
Qual é o papel do Onboarding nessa jornada de inclusão?
O Onboarding nada mais é do que o processo de integração de novas pessoas colaboradoras em uma empresa.
Ao longo dele, os recém-chegados não apenas recebem orientações básicas sobre suas tarefas e responsabilidades, mas também têm a chance de conhecer mais sobre a cultura organizacional, políticas internas e ambiente de trabalho.
Quando conduzido de forma eficiente, o Onboarding tem o poder de fazer com que a pessoa se sinta acolhida, valorizada e mais confiante para iniciar essa nova fase, aumentando a motivação e o engajamento logo de cara.
Tanto é que, segundo um estudo da Brandon Hall Group, um processo de integração bem estruturado pode elevar a retenção de talentos em 82%.
Quando o assunto é inclusão, o Onboarding também é a oportunidade perfeita de demonstrar, desde o primeiro contato, o compromisso da empresa com a diversidade e o respeito às diferenças.
Isso ganha ainda mais relevância quando olhamos para esse outro dado da Antra: 88% das pessoas trans acreditam que as empresas não estão preparadas para garantir a permanência deste grupo em seus quadros.
Ou seja: construir um Onboarding inclusivo pode e deve ser uma estratégia para começar a mudar essa realidade.
Promovendo uma integração inclusiva para pessoas trans
Agora que já falamos sobre a importância de contar com o Onboarding inclusivo, aqui estão algumas dicas para colocar isso em prática:
Reconheça o nome social e pronomes
O uso correto do nome social e dos pronomes é uma demonstração básica de respeito. Então, que tal estruturar uma política flexível nessa frente?
Certificar-se de que sistemas internos, crachás, e-mails corporativos e documentos reflitam o nome social e os pronomes escolhidos é uma excelente forma de dar as boas-vindas aos novos talentos.
Revise e adapte os materiais utilizados
Outra medida importante é revisar os materiais de Onboarding, incluindo manuais e apresentações, a fim de garantir que o uso de uma linguagem mais inclusiva.
Uma dica é substituir termos genéricos que pressupõem gênero, como “todos os colaboradores”, por expressões mais abrangentes, como “todas as pessoas colaboradoras”.
Capacite a equipe para a inclusão
A promoção da inclusão deve ser uma responsabilidade compartilhada. Por isso, é fundamental promover treinamentos regulares sobre o assunto.
Essas iniciativas devem abranger não apenas a equipe responsável pelo Onboarding e as lideranças, mas todas as pessoas colaboradoras.
Afinal, todos e todas desempenham um papel importantíssimo nessa construção.
Apresente as políticas de DEIP
Durante o Onboarding, é válido reforçar o compromisso da empresa com a Diversidade, Equidade, Inclusão e Pertencimento (DEIP), apresentando as políticas e programas estruturados nessa frente.
Apresente os canais de denúncia disponíveis, reiterando que a empresa tem tolerância zero para comportamentos discriminatórios e que se preocupa em garantir um espaço seguro.
Caso existam grupos de afinidade, você também pode conectar as novas pessoas colaboradoras a eles, oferecendo uma rede de apoio extra.
Promova conexão com a equipe
A conexão interpessoal é uma etapa importante para que a pessoa se sinta parte da equipe.
Portanto, não se esqueça de facilitar a integração dela com seus pares, promovendo momentos de interação que vão além das tarefas diárias.
Uma boa prática é designar alguém da equipe para atuar como referência para o novo ou nova integrante, ajudando-o/a a se familiarizar com o ambiente e com as dinâmicas de trabalho.
Incentive a cultura do feedback
Abrir espaço para que as pessoas colaboradoras compartilhem suas impressões sobre o processo de integração e o ambiente de trabalho é a melhor forma de saber se a sua empresa está no caminho certo.
Além de ajudar a identificar e corrigir possíveis barreiras à inclusão, esse diálogo aberto também fortalece a confiança e a sensação de pertencimento.
Evite exposições desnecessárias
Por último, busque respeitar a privacidade da pessoa trans, não exigindo que ela compartilhe sua história ou se posicione como porta-voz da comunidade.
Lembre-se de que cada pessoa deve ter o direito de decidir o que deseja ou não expor sobre sua vida.
A melhor forma de apoiar o Dia Nacional da Visibilidade Trans é oferecendo acolhimento, respeito e oportunidades reais para que pessoas trans se sintam incluídas e valorizadas no mercado de trabalho.
A integração inclusiva é uma etapa crucial dessa jornada. Mas ela não é a única. Se você deseja se aprofundar nas melhores práticas para transformar a sua empresa em um case de sucesso em DEIP, confira a Cartilha que preparamos!