Visibilidade Trans: 5 formas de promover a inclusão no mercado de trabalho
No dia 29 de janeiro, o Brasil comemora o Dia Nacional da Visibilidade Trans, uma data que existe desde 2004 não apenas para celebrar a existência de pessoas travestis e transexuais, mas também para chamar a atenção da sociedade para as reivindicações dessa comunidade.
Dentre as diversas questões que ganham evidência nesta época, a inserção no mercado de trabalho figura como uma das mais urgentes. Afinal, apesar dos avanços recentes, o emprego formal ainda permanece sendo uma exceção entre as pessoas trans.
Se a sua empresa, assim como a nossa, acredita no potencial, nas habilidades únicas e na contribuição valiosa que profissionais travestis e transexuais podem oferecer, é chegada a hora de agir.
Junte-se a nós na leitura deste post e entenda o que a sua organização pode fazer para dissipar a sombra da invisibilidade!
Travestis e transexuais: entenda a diferença
A compreensão sobre as nuances que permeiam as identidades de gênero é essencial para promover a visibilidade trans. Por esse motivo, vamos começar explicando os dois termos mais utilizados neste contexto: travestis e transexuais.
Embora possam parecer similares à primeira vista, vamos te mostrar a seguir como cada uma dessas palavras carrega consigo significados distintos, que refletem as experiências individuais e a autopercepção.
Transexuais
Pessoas transexuais são aquelas cuja identidade de gênero difere do sexo designado no nascimento. Em outras palavras, é quando a pessoa nasce em um corpo masculino, mas se identifica como mulher ou vice-versa.
Esse entendimento muitas vezes é acompanhado por uma profunda necessidade de viver e ser reconhecido de acordo com a identidade de gênero. O que, por sua vez, pode – ou não – levar à busca por intervenções médicas, como terapias hormonais ou cirurgias, para alinhar a expressão de gênero com a identidade.
Travestis
Já o termo travesti, é utilizado por pessoas declaradas masculinas no nascimento, mas que se entendem e vivenciam papéis de gênero feminino. Este termo foi, por muito tempo, utilizado de forma pejorativa, mas passou a ser ressignificado, recebendo também um lugar político-social de orgulho e visibilidade trans pela comunidade.
De modo geral, as travestis preferem ser chamadas pelos pronomes “ela” e “dela”. Porém, em todos os casos, o melhor caminho é sempre entender e respeitar como cada pessoa prefere ser tratada.
Dados sobre a participação de pessoas trans no mercado de trabalho
Em 2022, o Brasil foi eleito como o país que mais mata pessoas trans pelo 14° ano consecutivo, com 131 mortes registradas.
Este dado desolador escancara não apenas a extensão da violência, mas também evidencia que a transfobia é um problema profundamente enraizado em todos os âmbitos da nossa sociedade.
Quando olhamos especificamente para o mercado de trabalho, os números são um reflexo direto do preconceito para com as pessoas trans.
Segundo um dossiê publicado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (Antra) em 2020, por exemplo, 88% das pessoas trans acreditam que as empresas não estão preparadas para contratar ou garantir a permanência deste grupo em seus quadros.
Além disso, a pesquisa – que contou com a participação voluntária de 2.535 pessoas – também revelou que:
- 94% acreditam que o mercado formal de trabalho não está realmente aberto e comprometido com a contratação de pessoas trans;
- 90% acreditam que se mantém atual a estimativa de que 90% das travestis e mulheres trans utiliza a prostituição como fonte primária ou complementar de renda;
- 85% acreditam que homens trans/transmasculinos têm maior possibilidade de serem admitidos no mercado formal de trabalho que as travestis e mulheres trans.
Ou seja, apesar do aumento exponencial de vagas destinadas a pessoas trans nos últimos anos, ainda há um longo caminho que separa o mercado de trabalho da inclusão plena.
Principais desafios para a inclusão da comunidade trans nas empresas
Como acabamos de ver, a inclusão efetiva da comunidade trans no mercado de trabalho formal permanece sendo um objetivo distante para muitas pessoas. Dentre os fatores que contribuem para essa realidade, destacam-se os seguintes desafios:
Discriminação no R&S
Muitas pessoas trans enfrentam discriminação desde o início do processo de recrutamento e seleção. Afinal, preconceitos e estereótipos tendem a influenciar a decisão de contratação, impedindo que pessoas qualificadas tenham oportunidades igualitárias.
Ambientes de trabalho tóxicos
Locais de trabalho que não promovem a diversidade e a inclusão de maneira genuína podem ser especialmente hostis para pessoas trans. A falta de compreensão, apoio e ações concretas contribui para a marginalização e cria um ambiente pouco acolhedor.
Falta de políticas específicas
A ausência de políticas claras e inclusivas referentes à identidade de gênero pode resultar em desconforto e desafios para funcionários e funcionárias trans, tais como o desrespeito ao nome social e até mesmo à proibição do uso de banheiro adequado ao gênero.
Desigualdade salarial
Profissionais trans muitas vezes enfrentam disparidades salariais. Isso ocorre porque a discriminação pode impactar negativamente a progressão na carreira, limitando o acesso a oportunidades de promoção e remuneração equitativa.
Falta de conscientização
A falta de conhecimento sobre questões de identidade de gênero contribui para estigmatização e preconceito. Programas de sensibilização e educação são fundamentais neste contexto, pois visam promover a compreensão e empatia em todos os níveis da empresa.
Desafios no acesso à educação profissional
Muitos profissionais trans enfrentam barreiras no acesso à educação profissionalizante, o que limita ainda mais suas oportunidades de inserção em setores mais especializados e bem remunerados.
Para se ter uma ideia, a Antra estima que 70% da população trans e travesti do Brasil não teve a oportunidade de concluir o Ensino Médio.
Em complemento, uma pesquisa realizada pelo TransVida revelou que 36,7% dos participantes foram vítimas de transfobia durante o período de formação.
Falta de Representatividade
A ausência de representatividade trans em cargos de liderança é outro fator que impede a implementação de políticas mais inclusivas. Afinal, ter essas vozes na tomada de decisões tende a contribuir para a criação de ambientes de trabalho mais justos e acolhedores.
5 formas de promover a inclusão e reverter esse cenário
Superar os desafios apresentados acima requer um comprometimento contínuo com a visibilidade trans. Na sequência, vamos apresentar algumas das estratégias que podem contribuir com este objetivo:
- Implementação de políticas mais inclusivas
O início desta jornada pede por uma revisão completa das políticas atuais.
Afinal, desenvolver políticas específicas, que assegurem a igualdade de oportunidades para pessoas trans nos processos de contratação, promoção e desenvolvimento, é uma das formas mais eficazes de promover a inclusão.
- Investimento em educação e sensibilização
Ao oferecer programas de sensibilização e treinamento para todas as pessoas colaboradoras, as empresas ajudam a promover uma compreensão mais profunda das questões relacionadas à identidade de gênero e a reduzir estigmas e preconceitos.
- Representatividade nos comitês de DE&I
Garantir a presença de membros da comunidade trans nos comitês de diversidade das empresas também é uma excelente maneira de assegurar que suas vozes sejam ouvidas e consideradas nas decisões estratégicas.
- Treinamento para líderes e recrutadores
Como dissemos antes, a discriminação nos processos de contratação é um problema latente.
Para eliminá-lo, é importante capacitar as pessoas recrutadoras e gestoras sobre a importância da diversidade e inclusão, destacando as competências e habilidades únicas que profissionais trans podem oferecer.
- Acesso facilitado a oportunidades de emprego
Outra excelente estratégia para promover a inclusão é facilitar o acesso direto de pessoas trans a oportunidades de emprego, seja por meio de vagas afirmativas ou parcerias estratégicas com organizações comprometidas com essa pauta.
Em complemento, é igualmente importante promover programas de capacitação profissional para a comunidade, a fim de garantir oportunidades de aprendizado e desenvolvimento que contribuam efetivamente para a progressão delas no mercado de trabalho.
Ao adotar estas estratégias de forma consistente e comprometida, sua empresa pode desempenhar um papel fundamental no fortalecimento da visibilidade trans e na construção de ambientes de trabalho verdadeiramente inclusivos para a comunidade trans.
Caso precise de ajuda para iniciar ou mesmo dar continuidade ao seu plano de DE&I, conte com os especialistas em Diversidade, Equidade e Inclusão da METARH.